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Dona Alzira, líder histórica das vítimas de Santa Elina

No
início de 2013, Dona Alzira morreu. Ela lutou na heroica Batalha de
Santa Elina e transformou-se em uma liderança histórica da luta das
vítimas de Corumbiara. Camponesa, percorreu todas as regiões do
Brasil, trabalhando na roça e em outros ofícios, sempre com o sonho
de um pedacinho de terra. Ela foi uma das fundadoras do Codevise –
Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina e mesmo com problemas
de saúde, era a mais ativa mobilizadora da luta pela indenização e
tratamento de saúde para as vítimas na região de Palmares D’Oeste,
no município de Theobroma. Estava sempre acompanhada do grande
companheiro Seu João, com quem foi casada por 30 anos.


Dona
Alzira Augusto Monteiro, nasceu dia 2 de agosto de 1951, em
Caravelas, na Bahia. Mas foi em Nanuque, Minas Gerais, que viveu boa
parte da infância. Em Goiânia, passou sua juventude e em 1976 teve
seu primeiro e único filho, Wellington. Depois morou no Pará, onde
trabalhou como professora primária e casou-se com Seu João, a quem
Wellington adotou como pai.


Entre
1983 e 1984, Dona Alzira e sua família vieram para Corumbiara,
Rondônia. Trabalharam como arrendatários numa média propriedade.
Ela também foi zeladora na Escola Municipal na área Vitória da
União. Até que em 1995 ingressaram na tomada da fazenda Santa
Elina. Foi o início da conquista do sonho de um pedaço de terra
para a família trabalhar e viver com dignidade.


Mas
é preciso lutar para transformar os sonhos em realidade. E Dona
Alzira lutou na Batalha de Santa Elina. Também conhecido como
Massacre de Corumbiara, na verdade foi uma das mais importantes lutas
camponesas de nossa época, que deixou claro a essência das duas
classes em disputa. De um lado, o latifundiário Antenor Duarte,
explorador, covarde, assassino, torturador. Do outro, 600 famílias
de camponeses pobres, trabalhadores, justos, honestos, bravos
lutadores. Lá, Dona Alzira machucou a perna. Esta ferida, aliada a
outros problemas de saúde, a acompanharam o resto da vida e
tragicamente culminaram em sua morte. Ela também viu companheiros
serem humilhados, torturados e assassinados, inclusive a pequena
Vanessa de apenas sete anos de idade.


Mas
a preparação do acampamento e a luta heroica e destemida contra o
latifúndio, numa das regiões em que ele é mais sanguinário,
apontou o caminho dos camponeses em todo o Brasil. As famílias de
Santa Elina finalmente conquistaram suas terras, mas em outros
locais, pois naquele momento não conseguiram cortar a fazenda regada
com sangue camponês. Esta conta foi acertada pelos camponeses 16
anos depois com a retomada da fazenda Santa Elina e o Corte Popular,
organizado pela LCP e o CODEVISE.


Em
1996, Dona Alzira, Seu João e Wellington, mais conhecido como Coca,
foram então morar em seu lote no assentamento Rio Branco, município
de Theobroma. Viveram e trabalharam a terra vários anos, mas devido
a saúde frágil, ela e Seu João não conseguiam tocar mais o lote e
se viram obrigados a se desfazerem dele. Mas foram morar pertinho, na
Vila Palmares. (…)


Também,
as vítimas de Santa Elina não deixariam Dona Alzira e Seu João
mudarem-se pra longe. A casa deles estava sempre cheia de camponeses
e lideranças da luta debatendo, trocando informações. Sempre tinha
comida, banho e pouso para quem precisasse.


Dona
Alzira lutava fortemente por seus ideais, tinha grandes sonhos de uma
vida melhor para todo o povo. Ela não desanimava com os percalços
que a vida apresenta. Mesmo com vários problemas de saúde, seu
semblante era sempre alegre, animando seus companheiros. Em 2007,
durante um ato de celebração do 8 de março – Dia Internacional
da Mulher Trabalhadora, o MFP – Movimento Feminino Popular
homenageou Dona Alzira e outras 3 camponesas, líderes da luta pela
terra.


Como
a maioria do povo brasileiro, Dona Alzira morreu vítima da
exploração. Mesmo trabalhando duro a vida inteira não conseguiu
tratar da saúde antes de se agravar. Ela esteve duas vezes em Belo
Horizonte para fazer tratamento médico no Socorro Popular. Numa das
vezes, ficou 6 meses, e melhorou bastante. Mas voltando pra Rondônia
não conseguiu manter o tratamento, devido à péssima assistência
médica.


Inesperadamente,
na manhã do dia 5 de janeiro, rompeu uma veia da ferida de sua
perna. Seu filho que estava com ela, chamou socorro, mas ela morreu
em seus braços, em casa, aos 62 anos de idade.


O
companheiro Coca, disse: “Se o governo tivesse cumprido o que
prometeu e desse pelo menos a assistência médica às vítimas,
minha mãe e outros companheiros poderiam estar vivos ainda. O Lula
esteve lá no acampamento em Santa Elina em 1995 prometendo.” (…)


Dona
Alzira ficará sempre em nossa memória e coração como a matriarca
da luta, grande mobilizadora, que deixou seu nome na luta popular
organizada. Devemos nos mirar no exemplo de vida e trabalho, luta,
companheirismo e otimismo. É a melhor forma de homenagearmos a
companheira Alzira.

 

Companheira
Alzira, presente na luta!




LCP
de Rondônia e Amazônia Ocidental | 6 de abril de 2013

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