Camaradas, antes de iniciar meu
relatório das atividades do Secretariado Internacional das Mulheres
e o desenvolvimento da atividade comunista entre as mulheres,
permita-me alguns breves comentários. Eles se fazem necessários
porque nosso trabalho ainda é incompreendido não apenas pelos
nossos oponentes, mas também por nossos próprios camaradas. É
resquício de uma antiga visão para uns e um preconceito deliberado
para outros, porque não se simpatizam com a nossa causa e até, em
partes, se opõem a ela.
O
Secretariado Internacional das Mulheres é uma filial do Executivo da
Internacional Comunista. Conduz sua atividade não somente em uma
cooperação constante com o Executivo, mas sob sua liderança
direta. O que, em regra, designamos como o Movimento das Mulheres
Comunistas não é um movimento independente de mulheres. Ele existe
como propaganda comunista sistemática entre estas. Isso tem um duplo
propósito: Primeiro, incorporar dentro das seções nacionais da
Internacional Comunista aquelas mulheres que já estão tomadas pelo
ideal comunista, tornando-as cooperadoras conscientes na atividade
dessas sessões. Segundo, despertar para o ideal comunista as
mulheres indiferentes e atraí-las para as lutas do proletariado. As
massas das mulheres trabalhadoras devem ser mobilizadas para essas
lutas. Não há trabalho no Partido, não há luta de movimento em
nenhum país em que nós, mulheres, não consideramos como nosso
primeiro dever participar. Além disso, desejamos ocupar nosso lugar
nos Partidos Comunistas e na Internacional em que o trabalho é mais
árduo e as balas voam mais densas, sem desviar do trabalho mais
servil e modesto do dia a dia.
Uma
coisa se tornou evidente: necessitamos de órgãos especiais para
levar adiante o trabalho Comunista de organização e educação
entre as mulheres e torná-las parte da vida do Partido. Agitação
Comunista entre as mulheres não é somente tarefa delas, é tarefa
de todo o Partido Comunista de cada país, da Internacional
Comunista. Para cumprir nosso propósito é necessário criar órgãos
partidários, Secretarias das Mulheres, Departamento das Mulheres, ou
como quer que possamos chamá-los, para continuar esse trabalho.
Óbvio
que não negamos a possibilidade de que alguma personalidade forte,
homem ou mulher, possa fazer o mesmo trabalho em uma organização
local ou distrital. No entanto, por mais que admitamos tais relações
individuais no Partido, devemos nos perguntar como maiores seriam os
benefícios se ao invés do trabalho de um único indivíduo,
tivéssemos a cooperação de muitas forças. A ação conjunta de
muitos em prol do objetivo comum deve ser nosso slogan
no Partido, na Internacional, e em nosso trabalho para com as
mulheres.
Por
conveniência, da divisão prática do trabalho, as mulheres, em
regra, são mais bem qualificadas para participar de órgãos
especiais para o trabalho Comunista entre elas. Não podemos nos
desviar do fato que a grande massa de mulheres vive e trabalha hoje
sob condições específicas. Logo, no geral, as mulheres costumam
encontrar o melhor e mais rápido método de abordar a mulher
trabalhadora para começar a propaganda Comunista. Assim como nós,
mulheres Comunistas, consideramos como nosso direito e dever
participar de todas as atividades no Partido – desde o mais modesto
trabalho de distribuição de panfletos até à derradeira, tremenda
e decisiva luta – da mesma forma que consideramos um insulto ser
consideradas não dignas de participar da grande vida histórica do
Partido e da Internacional Comunista, desta forma não excluímos
nenhum homem de participar do especial trabalho Comunista entre as
mulheres.
Durante
o ano passado, tivemos evidências dos lados positivos e negativos do
trabalho Comunista entre as mulheres. Temos visto os lados positivos
nos países onde as seções Comunistas da Internacional criaram
órgãos, como na Bulgária e na Alemanha onde as Secretarias das
Mulheres continuam o trabalho de organizar a educação das mulheres
Comunistas, mobilizando as mulheres trabalhadoras e liderando-as à
luta social. Nestes países, o movimento das Mulheres Comunistas
tornou-se um dos mais fortes pontos da vida geral do Partido. Nestes
países, temos muitas mulheres membros e militantes no Partido e
massas ainda maiores de mulheres como companheiras de luta fora do
Partido.
Onde
há desejo, há um caminho. Desejamos a revolução mundial, logo,
devemos encontrar o caminho de alcançar as massas de mulheres
exploradas e escravizadas, sejam os contextos históricos fáceis ou
difíceis.
Deixe-me
mostrar a você alguns exemplos de efeitos ruins da ausência de
órgãos especiais para o trabalho entre as mulheres nos partidos
Comunistas. Quando não há Secretarias das Mulheres ou órgãos
semelhantes, observamos uma queda na participação de mulheres na
vida do Partido Comunista e o afastamento do proletariado feminino da
luta de sua classe. Na Polônia, o Partido se recusou até agora a
criar órgãos especiais para trabalho entre as mulheres. O Partido
se contentou em permitir a estas a lutarem em suas fileiras e
participar de greves e movimentos de massa. No entanto, estamos
começando a perceber que isso não é suficiente para permear o
proletariado feminino ao ideal Comunista. As últimas eleições para
o regime provaram que a reação encontra seu mais forte suporte
entre as massas ignorantes de mulheres que ainda não foram permeadas
pelo Comunismo. Isso nunca deve acontecer de novo.
Na
Inglaterra, a organização para a condução de uma agitação
sistemática entre o proletariado feminino é completamente ausente,
o Partido Comunista da Grã-Bretanha se desculpou pela sua
ineficiência, e tem continuamente recusado ou postergado a criação
de um órgão especial para agitação sistemática entre as
mulheres. Todo o estímulo da Secretaria Internacional das Mulheres
tem sido em vão. Nenhuma Secretaria das Mulheres foi definida: a
única coisa que tem sido feita é a nomeação de uma camarada como
agitadora geral do Partido. Nossas camaradas organizaram várias
reuniões para a educação política de mulheres Comunistas a partir
de seus próprios números insuficientes. Essas reuniões alcançaram
tão bons resultados que a definição de reuniões similares deve
ser incentivada pelo Partido Comunista.
A
atitude do Executivo do Partido Comunista da Grã-Bretanha é, em
minha opinião, não somente um resultado de sua limitação
financeira, mas em partes também de sua juventude e das falhas
resultantes desta. Não quero submeter o Partido a sérias críticas
aqui. O sucesso do Partido Comunista britânico na última eleição
geral na Grã-Bretanha é a prova de sua forte determinação e seu
sucesso prático. No entanto, a vitória eleitoral, bem como a
atividade política e a reorganização que foram decididas, atribuem
ao Partido Comunista britânico, em uma época em que, de pequeno
partido propagandista, vai direto para as massas, se esforçar para
organizar as mulheres proletárias. A seção britânica da
Internacional não pode ficar indiferente ao fato de que em seu país
muitas milhares de mulheres proletárias estão organizadas em
sociedades de sufrágio feminino, sindicato de mulheres do modelo
antigo, em cooperativas de consumidores, no Partido Trabalhista e no
Partido Trabalhista Independente. Compete ao Partido Comunista lutar
com todas essas organizações para a cooptação de mentes, de
corações, de força de vontade e de ações das mulheres
proletárias. Assim, em longo prazo perceberá a necessidade para a
organização de órgãos especiais através dos quais será capaz de
organizar e formar as mulheres Comunistas dentro do Partido, e fazer
com que mulheres proletárias fora do Partido lutem pelos interesses
de suas classes.
Em
vários países, as mulheres Comunistas, sob a liderança de seu
Partido, têm usado de toda a oportunidade para despertar as mulheres
proletárias e liderá-las à luta contra o sistema capitalista. Esse
foi o caso, por exemplo, na Alemanha na luta contra a chamada Lei do
Aborto, que foi usada para uma campanha vasta e bem sucedida contra a
regra da classe burguesa e o Estado burguês. Essa campanha nos
assegurou a simpatia e a adesão das grandes massas de mulheres. Foi
apresentada, não como uma questão feminina, mas uma questão
política do proletariado.
Percebemos,
sem dúvida, a importância do trabalho espirituoso e preciso nos
sindicatos e nas cooperativas. Para continuar o trabalho enérgico e
sistemático nesses dois campos, é necessário que ganhemos
influência sobre grande parte das mulheres e as recrutemos para a
luta. Faremos isso influenciando as mulheres trabalhadoras através
de seus sindicatos, e esposas proletárias e da pequena burguesia
através do movimento cooperativo. Entretanto, quero ressaltar que em
nosso trabalho não devemos levantar falsas ilusões. Pelo contrário,
devemos fazer o nosso melhor para destruir a ilusão de que o
movimento sindical e movimentos cooperativos dentro do sistema
capitalista são capazes de trazer legislação para benefício do
proletariado e de destruir os alicerces do capitalismo. Por mais útil
e indispensável que seja o trabalho do sindicato e das cooperativas
eles não podem minar a queda do capitalismo.
As
condições são especialmente favoráveis para reunir também
mulheres não proletárias em torno da bandeira do comunismo. A
decadência do capitalismo criou na Grã-Bretanha, na Alemanha e
outros estados burgueses uma grande nova classe de ricos bem como uma
grande nova classe de pobres. A classe média está sendo
proletarizada. Por consequência, as exigências da vida estão
puxando os cordões do coração bem como os cordões das bolsas de
muitas mulheres que até então tiveram uma absurda existência
segura e feliz sob o sistema capitalista. Muitas mulheres
profissionais, de modo especial as intelectuais, como professoras,
funcionárias públicas e funcionárias de escritório de todos os
tipos estão se rebelando e são pressionadas a lutarem contra o
capitalismo. Camaradas, devemos aproveitar o fermento nos círculos
dessas mulheres e transformar suas resignadas desesperanças em chama
de indignação que levará à consciência e à ação
revolucionária.
E
as condições que podem tornar isso possível? Já mencionei que
incursões perversas as condições atuais fazem na vida de milhões
de mulheres, causando nestas o despertar de seu torpor. Tudo que
antes nos impedia, o atraso político e a indiferença das mulheres
no geral, podem, sob pressão de um sofrimento insuportável, trazer
mulheres adultas para o campo Comunista. Sua mentalidade é menos
afetada pela falsa e ilusória palavra de ordem dos reformistas
social-democratas ou dos reformistas burgueses. Sua mentalidade é,
com frequência, como uma folha em branco, por isso acharemos mais
fácil trazer as massas femininas, até então indiferentes, para
nossa luta sem a transição preliminar através do sufrágio,
pacifistas e outras organizações reformistas. No entanto, quero
deixar uma nota de advertência. Não devemos ser tão otimistas e
esperar que as mulheres se juntem a nós imediatamente à luta por
nossos objetivos finais, mas podemos depender delas em nossa luta
defensiva contra o ataque geral da burguesia.
Acredito
que nossas camaradas na Bulgária nos mostraram uma boa forma de
organizar mulheres. Elas fundaram sindicatos de mulheres
simpatizantes. Esses sindicatos não são apenas centros de formação
preparatória para entrar no Partido Comunista, mas também são
pontos de articulação efetivos de massas de mulheres para todas as
atividades e ações deste. Nossas camaradas italianas começaram a
seguir esse exemplo. Elas também fundaram grupos de mulheres
simpatizantes, incluindo mulheres que ainda relutam em entrar em
partidos políticos ou comparecer a reuniões políticas. O exemplo
não deve apenas receber reconhecimento de todos aqueles que fazem o
trabalho Comunista entre as mulheres em todos os países, deve também
ser seguido.
Camaradas,
as mulheres Comunistas estão dentro das seções da Internacional
dotadas com a consciência, com a vontade e com a energia necessárias
para este trabalho entre as massas de mulheres? Não devemos ignorar
o fato de que as mulheres bem como os homens Comunistas (uma vez que,
no geral, não somos piores ou mais ignorantes do que vocês), muitas
vezes carecem de formação fundamental, teórica e prática. O
atraso e a insegurança das mulheres no movimento político só
refletem o atraso e a insegurança das fileiras Comunistas no geral.
É de extrema importância superar o mais rápido possível a falta
de formação e a ineficiência daqueles que realizam o trabalho
Comunista entre o proletariado feminino. Assim, ordeno a todos que
cuidem para que mulheres Comunistas dentro de suas fileiras sejam
individualmente responsáveis pelo cumprimento das tarefas práticas
do Partido. Veja que elas têm todas as oportunidades educacionais
possíveis. Camaradas, a formação prática e fundamental de
mulheres para tornarem-se valiosas operárias Comunistas na luta
Comunista é parte de seu próprio trabalho educacional e um
importante e indispensável pré-requisito para seu sucesso.
Todos
os sinais dos tempos nos mostra que a sociedade é precisamente
madura, ou melhor, demasiadamente madura para a queda do capitalismo.
Não tivemos nenhuma prova de que a vontade do proletariado, a
vontade da classe destinada a ser coveira da ordem capitalista está
madura no sentido histórico da palavra. No entanto, camaradas, essa
situação histórica é como uma paisagem alpina em que as
gigantescas massas de neve repousam no topo da montanha por séculos,
aparentemente impermeável ao sol, à chuva e à tempestade. Mas,
apesar das aparências elas estão minadas, elas cresceram devagar e
estão ‘maduras’ para serem lançadas para baixo. Talvez o bater das
asas de um passarinho será suficiente para mover esta avalanche que
irá soterrar vilas sob seu peso. Não sabemos quando nós, homens e
mulheres, enfrentaremos a revolução mundial. Logo, não devemos
perder uma hora sequer, ou melhor, deixar um minuto sequer passar sem
trabalhar para a revolução mundial. A revolução mundial não
significa apenas a destruição mundial e a destruição do
capitalismo. Também significa a construção mundial e criação do
Comunismo. Inspiremo-nos no real sentido da palavra: estejamos
prontos e preparemos as massas para que estas se tornem as criadoras
mundiais do Comunismo.