Ainda em alusão ao Dia do Povo Preto – dia 20 de novembro – reproduzimos abaixo matéria publicada no jornal A Nova Democracia.
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Aqualtune, a chefe guerreira e fundadora da autodefesa do Quilombo de Palmares
Em um artigo intitulado Viva
o grande chefe revolucionário Zumbi de Palmares!,
publicado no
AND
em 18/11/2020,
procuramos afirmar o papel desse grande Chefe Guerreiro, que ainda há
uma mística em torno do nome, porém é inegável a sua projeção e
de sua companheira Dandara, que estiveram à frente de grandes
batalhas contra os Bandeirantes e os capitães-do-mato, que atuavam
para defender a coroa portuguesa e os senhores de engenhos da época.
Hoje os quilombos seguem a luta pela terra e por isso, as suas
lideranças seguem sendo perseguidas e caçadas, assassinadas a mando
dos algozes do povo, que hoje não pelos bandeirantes a serviço da
Coroa Portuguesa, mas pelas forças
de repressão do
velho Estado a serviço dos latifundiários, da grande burguesia e do
imperialismo, principalmente ianque.
Há muito tentamos levantar a
História dessa grande guerreira, que nasceu livre no Congo e foi
escravizada pelos portugueses, trazida para o Brasil. Porém a
História dos que lutaram por liberdade é muito turva e na sua
maioria, escrita pelos “vencedores” e não pelos “vencidos”.
Nesse sentido, temos que fazer um grande esforço, para procurar uma
fonte menos viciada, mas para falarmos de Aqualtune, temos que ter
uma ligeira assimilação, para tentarmos buscar uma afirmação
científica, ou próximo disso, já que há muita discrepância sobre
a origem dela.
Em “registros históricos”,
há alguns artigos que falam de sua existência, embora em épocas
diferentes, mas em todas há uma ligação com o Chefe Guerreiro
Zumbi, como sua avó materna, já que é a mãe de Ganga-Zumba,
Ganga-Zona e Sabina, a mãe de Zumbi dos Palmares. Outro fato muito
importante de se avaliar, para não incorrermos no erro, é o fato de
alguns afirmarem que ela tinha parentesco e era filha do rei do
Congo. Na tentativa de falar de Aqualtune, há historiadores que
afirmaram que ela era filha do rei Garcia II (Nkanga a Lukeni a
Nzenze a Ntumba), que reinou no Congo entre 1641 e 1661, porém tais
datas não convergem com a cronologia histórica de sua existência.
Para termos o mínimo de coerência histórica, devemos analisar que
Zumbi dos Palmares foi morto em combate em 20 de novembro de 1695,
não condiz com a cronologia de alguns historiadores, que afirmaram
que era filha do rei Garcia II (1641 a 1661).
Nesse caso, temos uma
concordância com a matéria assinada por Maria Fernanda Garcia, no
Sitio Observatório
do Terceiro Setor, na qual ela afirma que Aqualtune chegou ao
Brasil em 1597, desembarcando no porto de Recife e é mais condizente
com a História do Quilombo dos Palmares, que nasceu por volta de
1597 e resistiu até 1695 (embora não vá mais fundo e profundo nos
fatos). A História de Aqualtune, como parte da História de luta do
nosso povo, tem essa lacuna por conta da dominação escravocrata que
pesava sobre os contemporâneos, que quase sempre levava ao
analfabetismo, apagamento da cultura dos povos, o que obriga os
historiadores, em sua maioria, a replicarem as ideias dos algozes do
povo.
Mas deixando de lado as
controvérsias, que muitas vezes são caprichos do historiador,
devemos extrair do pouco material seu teor que faça a Roda da
História girar pra frente. Não temos a vida de nossa grande
Guerreira Congolesa, que liderou um exército de 10 mil homens e
mulheres, sendo reconhecida e respeitada por todos. Com o seu alto
posto de mando e conhecimento de técnicas militares de combate,
Aqualtune se destacava na luta contra a dominação de seu povo.
Porém foi derrotada em uma dessas batalhas, entre congoleses e
portugueses, pagando com a decapitação do seu pai, que teve a
cabeça exibida em uma igreja, e ela e seus guerreiros foram
capturados e vendidos como escravos.
O exército congolês era formado
por camponeses, recrutados nas batalhas, enquanto o exército
estrangeiro era composto por guerreiros imbangalas (jagas). Segundo a
autora Maria Fernanda, já citada: “Os
imbangalas eram uma sociedade completamente militarizada, baseada
inteiramente em ritos de iniciação, ao contrário dos demais grupos
étnicos africanos, que se baseiam em ritos de parentesco. Para
impedir que o parentesco tomasse o lugar da iniciação, todas as
crianças nascidas numa aldeia eram assassinadas. As mulheres podiam
deixar suas aldeias para terem seus filhos, mas, quando voltavam, as
crianças só eram consideradas imbangalas após terem participado
dos ritos de iniciação. De modo semelhante ao da antiga Esparta, as
crianças eram treinadas diariamente em combate individual e em
grupo.”
Foram esses guerreiros
mercenários, que atacaram o Reino do Congo a serviço da Coroa
Portuguesa e derrotaram o exército congolês:
“… Com a derrota, a
princesa foi presa e levada para um mercado de escravos e, de lá,
foi enviada para o Brasil. Chegou ao Recife em 1597, mesmo ano em que
um grupo de 40 negros fugidos chegou à Serra da Barriga, formando o
primeiro núcleo do que seria o Quilombo dos Palmares. Aqualtune foi
vendida como escrava reprodutora e seguiu, já grávida, para uma
fazenda na região de Porto Calvo. Foi nessa região que ouviu os
primeiros relatos sobre um reduto de africanos livres e decidiu
comandar uma fuga com destino a esse quilombo.”
Nesse pequeno trecho descrito por
Maria Fernanda no Sitio Observatório
do Terceiro Setor, podemos ver a garra e fibra dessa chefe
Guerreira, que pouco se fala dela, mas com toda certeza, fora sua
garra e determinação que fez de Palmares uma Fortaleza do povo
preto, que resistiu por quase 100 anos. Segundo consta, ela e o grupo
de fugitivos, chegaram na Serra da Barriga e logo passa a exercer a
sua liderança, buscando criar uma fortaleza e um grupo de
autodefesa. Com a sua sagacidade e grande conhecimentos na técnica
de combate, logo assume um Mucambo, que recebeu o seu nome e de lá,
comandou várias lutas de resistência, ocupando de vez o posto de
Chefe Guerreira.
Apesar de grande destreza e ter
chefiado os guerreiros palmarinos, em várias incursões para
libertar escravos e fortalecer a autodefesa do Quilombo de Palmares e
está a frente do exército palmarinos, o nome de Aqualtune é sempre
lembrado como mãe de Ganga-Zumba, Ganga-Zona e Sabina, ou como a avó
de Zumbi dos Palmares e não como uma mulher guerreira, que não
aceitou a condição de escrava, imposta pelos portugueses. A
responsabilidade e o seu conhecimento de combate, adquirida no Congo,
contra os agressores, permitiu-lhe criar a fortaleza do Quilombo dos
Palmares, onde chegou fugida de uma fazenda em Porto Calvo, com cerca
de 40 negros fugidos e pelo caminho da Serra da Barriga,
arregimentaram mais escravos fugidos e chegaram com cerca de 200
fugitivos, que passaram a morar e defender os Mocambos, que formavam
a República de Palmares, inclusive um dos Mocambos carregou o seu
nome.
Aqualtune foi mãe de
Ganga-Zumba, Ganga-Zona e Sabina, passando o seu posto de chefe ao
seu primogênito Ganga-Zumba. Após anos de chefiar o Quilombo,
Ganga-Zumba caiu na armadilha da Coroa Portuguesa e do governo da
Capitania de Pernambuco e teve uma forte oposição, liderada por
Zumbi, seu sobrinho, filho de Sabina, que nessas alturas já era um
líder guerreiro respeitado. O Quilombo de Palmares, graças aos
conhecimentos de Aqualtune, pôde subdividir as responsabilidades,
formando uma verdadeira República, onde haviam em cada Mocambo seus
Chefes Políticos e Militares, subordinados ao Chefe Geral do
Quilombo, que foram Aqualtune, Ganga-Zumba e Zumbi. Graças a isso,
pôde resistir a várias expedições de Bandeirantes, usando táticas
de guerrilhas, com armadilhas e ataques surpresas.
As expedições bandeirantes
usaram toda a artilharia, inclusive canhões, para “derrotar”
militarmente os palmarinos, porém o exemplo da Serra da Barriga e a
abnegação dos negros ficou marcado na história de luta do nosso
povo, pela sua libertação e o povo preto, longe de ser coitado, é
um povo que desde aqui chegou luta contra o preconceito, a escravidão
e todo tipo de descriminação, que passa longe do pós-modernismo,
do “lugar de fala” e todo tipo de engessamento da luta, que na
maioria das vezes, cai no jogo de conciliação; na história, o povo
preto sempre opôs a guerra justa contra toda a opressão miserável.
No
último dia 20 de novembro, celebrou-se o Dia do Povo Preto no
Brasil, oficialmente castrado como o “Dia da Consciência Negra”.
Data que marca o dia em que os bravos guerreiros de Palmares
preferiram morrer em combate do que aceitarem de forma cativa os
grilhões da escravidão.
Em um artigo intitulado Viva
o grande chefe revolucionário Zumbi de Palmares!,
publicado no
AND
em 18/11/2020,
procuramos afirmar o papel desse grande Chefe Guerreiro, que ainda há
uma mística em torno do nome, porém é inegável a sua projeção e
de sua companheira Dandara, que estiveram à frente de grandes
batalhas contra os Bandeirantes e os capitães-do-mato, que atuavam
para defender a coroa portuguesa e os senhores de engenhos da época.
Hoje os quilombos seguem a luta pela terra e por isso, as suas
lideranças seguem sendo perseguidas e caçadas, assassinadas a mando
dos algozes do povo, que hoje não pelos bandeirantes a serviço da
Coroa Portuguesa, mas pelas forças
de repressão do
velho Estado a serviço dos latifundiários, da grande burguesia e do
imperialismo, principalmente ianque.
Há muito tentamos levantar a
História dessa grande guerreira, que nasceu livre no Congo e foi
escravizada pelos portugueses, trazida para o Brasil. Porém a
História dos que lutaram por liberdade é muito turva e na sua
maioria, escrita pelos “vencedores” e não pelos “vencidos”.
Nesse sentido, temos que fazer um grande esforço, para procurar uma
fonte menos viciada, mas para falarmos de Aqualtune, temos que ter
uma ligeira assimilação, para tentarmos buscar uma afirmação
científica, ou próximo disso, já que há muita discrepância sobre
a origem dela.
Em “registros históricos”,
há alguns artigos que falam de sua existência, embora em épocas
diferentes, mas em todas há uma ligação com o Chefe Guerreiro
Zumbi, como sua avó materna, já que é a mãe de Ganga-Zumba,
Ganga-Zona e Sabina, a mãe de Zumbi dos Palmares. Outro fato muito
importante de se avaliar, para não incorrermos no erro, é o fato de
alguns afirmarem que ela tinha parentesco e era filha do rei do
Congo. Na tentativa de falar de Aqualtune, há historiadores que
afirmaram que ela era filha do rei Garcia II (Nkanga a Lukeni a
Nzenze a Ntumba), que reinou no Congo entre 1641 e 1661, porém tais
datas não convergem com a cronologia histórica de sua existência.
Para termos o mínimo de coerência histórica, devemos analisar que
Zumbi dos Palmares foi morto em combate em 20 de novembro de 1695,
não condiz com a cronologia de alguns historiadores, que afirmaram
que era filha do rei Garcia II (1641 a 1661).
Nesse caso, temos uma
concordância com a matéria assinada por Maria Fernanda Garcia, no
Sitio Observatório
do Terceiro Setor, na qual ela afirma que Aqualtune chegou ao
Brasil em 1597, desembarcando no porto de Recife e é mais condizente
com a História do Quilombo dos Palmares, que nasceu por volta de
1597 e resistiu até 1695 (embora não vá mais fundo e profundo nos
fatos). A História de Aqualtune, como parte da História de luta do
nosso povo, tem essa lacuna por conta da dominação escravocrata que
pesava sobre os contemporâneos, que quase sempre levava ao
analfabetismo, apagamento da cultura dos povos, o que obriga os
historiadores, em sua maioria, a replicarem as ideias dos algozes do
povo.
Mas deixando de lado as
controvérsias, que muitas vezes são caprichos do historiador,
devemos extrair do pouco material seu teor que faça a Roda da
História girar pra frente. Não temos a vida de nossa grande
Guerreira Congolesa, que liderou um exército de 10 mil homens e
mulheres, sendo reconhecida e respeitada por todos. Com o seu alto
posto de mando e conhecimento de técnicas militares de combate,
Aqualtune se destacava na luta contra a dominação de seu povo.
Porém foi derrotada em uma dessas batalhas, entre congoleses e
portugueses, pagando com a decapitação do seu pai, que teve a
cabeça exibida em uma igreja, e ela e seus guerreiros foram
capturados e vendidos como escravos.
O exército congolês era formado
por camponeses, recrutados nas batalhas, enquanto o exército
estrangeiro era composto por guerreiros imbangalas (jagas). Segundo a
autora Maria Fernanda, já citada: “Os
imbangalas eram uma sociedade completamente militarizada, baseada
inteiramente em ritos de iniciação, ao contrário dos demais grupos
étnicos africanos, que se baseiam em ritos de parentesco. Para
impedir que o parentesco tomasse o lugar da iniciação, todas as
crianças nascidas numa aldeia eram assassinadas. As mulheres podiam
deixar suas aldeias para terem seus filhos, mas, quando voltavam, as
crianças só eram consideradas imbangalas após terem participado
dos ritos de iniciação. De modo semelhante ao da antiga Esparta, as
crianças eram treinadas diariamente em combate individual e em
grupo.”
Foram esses guerreiros
mercenários, que atacaram o Reino do Congo a serviço da Coroa
Portuguesa e derrotaram o exército congolês:
“… Com a derrota, a
princesa foi presa e levada para um mercado de escravos e, de lá,
foi enviada para o Brasil. Chegou ao Recife em 1597, mesmo ano em que
um grupo de 40 negros fugidos chegou à Serra da Barriga, formando o
primeiro núcleo do que seria o Quilombo dos Palmares. Aqualtune foi
vendida como escrava reprodutora e seguiu, já grávida, para uma
fazenda na região de Porto Calvo. Foi nessa região que ouviu os
primeiros relatos sobre um reduto de africanos livres e decidiu
comandar uma fuga com destino a esse quilombo.”
Nesse pequeno trecho descrito por
Maria Fernanda no Sitio Observatório
do Terceiro Setor, podemos ver a garra e fibra dessa chefe
Guerreira, que pouco se fala dela, mas com toda certeza, fora sua
garra e determinação que fez de Palmares uma Fortaleza do povo
preto, que resistiu por quase 100 anos. Segundo consta, ela e o grupo
de fugitivos, chegaram na Serra da Barriga e logo passa a exercer a
sua liderança, buscando criar uma fortaleza e um grupo de
autodefesa. Com a sua sagacidade e grande conhecimentos na técnica
de combate, logo assume um Mucambo, que recebeu o seu nome e de lá,
comandou várias lutas de resistência, ocupando de vez o posto de
Chefe Guerreira.
Apesar de grande destreza e ter
chefiado os guerreiros palmarinos, em várias incursões para
libertar escravos e fortalecer a autodefesa do Quilombo de Palmares e
está a frente do exército palmarinos, o nome de Aqualtune é sempre
lembrado como mãe de Ganga-Zumba, Ganga-Zona e Sabina, ou como a avó
de Zumbi dos Palmares e não como uma mulher guerreira, que não
aceitou a condição de escrava, imposta pelos portugueses. A
responsabilidade e o seu conhecimento de combate, adquirida no Congo,
contra os agressores, permitiu-lhe criar a fortaleza do Quilombo dos
Palmares, onde chegou fugida de uma fazenda em Porto Calvo, com cerca
de 40 negros fugidos e pelo caminho da Serra da Barriga,
arregimentaram mais escravos fugidos e chegaram com cerca de 200
fugitivos, que passaram a morar e defender os Mocambos, que formavam
a República de Palmares, inclusive um dos Mocambos carregou o seu
nome.
Aqualtune foi mãe de
Ganga-Zumba, Ganga-Zona e Sabina, passando o seu posto de chefe ao
seu primogênito Ganga-Zumba. Após anos de chefiar o Quilombo,
Ganga-Zumba caiu na armadilha da Coroa Portuguesa e do governo da
Capitania de Pernambuco e teve uma forte oposição, liderada por
Zumbi, seu sobrinho, filho de Sabina, que nessas alturas já era um
líder guerreiro respeitado. O Quilombo de Palmares, graças aos
conhecimentos de Aqualtune, pôde subdividir as responsabilidades,
formando uma verdadeira República, onde haviam em cada Mocambo seus
Chefes Políticos e Militares, subordinados ao Chefe Geral do
Quilombo, que foram Aqualtune, Ganga-Zumba e Zumbi. Graças a isso,
pôde resistir a várias expedições de Bandeirantes, usando táticas
de guerrilhas, com armadilhas e ataques surpresas.
As expedições bandeirantes
usaram toda a artilharia, inclusive canhões, para “derrotar”
militarmente os palmarinos, porém o exemplo da Serra da Barriga e a
abnegação dos negros ficou marcado na história de luta do nosso
povo, pela sua libertação e o povo preto, longe de ser coitado, é
um povo que desde aqui chegou luta contra o preconceito, a escravidão
e todo tipo de descriminação, que passa longe do pós-modernismo,
do “lugar de fala” e todo tipo de engessamento da luta, que na
maioria das vezes, cai no jogo de conciliação; na história, o povo
preto sempre opôs a guerra justa contra toda a opressão miserável.
No
último dia 20 de novembro, celebrou-se o Dia do Povo Preto no
Brasil, oficialmente castrado como o “Dia da Consciência Negra”.
Data que marca o dia em que os bravos guerreiros de Palmares
preferiram morrer em combate do que aceitarem de forma cativa os
grilhões da escravidão.