Sandra Lima
Biografias

Sandra Lima: a inteireza de uma revolucionária proletária

Não é tarefa difícil para o revolucionário de nosso tempo em nosso País falar em homenagem à nossa querida companheira Sandra Lima. Agora, passado praticamente um mês do solavanco de que fomos acometidos, passado os tremores do chão sob nossos pés, podemos falar com o coração em menos sobressaltos e nos chama à razão fazê-lo com a realidade e concretude que a vida nos condiciona frente à morte.

Não que nos rendemos frente à morte por ser ela, em determinado momento, inevitável para cada um de nós, para cada ser vivo, pois que sobretudo, a morte não é só a morte, é também vida. É com ela também que a Humanidade se reproduz e prossegue sua saga rumo ao porvir. Viemos de outros, que de outros vieram, de nós nascem outros e destes outros, outros tantos e assim indefinidamente num processo que abarca eras, épocas, etapas, fases, momentos, enfim. Na infinitude do universo não seria um egoísmo estranho e tolo querermos viver eternamente na mesma forma e espaço? Mas a morte colhe a vida de muitos fora do seu tempo. Mas para os revolucionários verdadeiros sua vida não está doada à causa?

Além de tudo, porque é preciso ver a vida nem como indivíduos isolados e nem mesmo como um amontoado deles, ver a vida como a coletividade humana em sua saga de centenas de milhares de anos lutando por transformar o mundo, na marcha heroica do reino da necessidade para o reino da liberdade.

Vermos no sentido humano de que a vida é imortal e infinitamente superior à morte, pois que a morte não pode vencer a Humanidade e o feito e vivido de cada indivíduo, por mais individualista que possa ser uma existência, ainda assim ela só foi possível porque contou com outras vidas que seguem. Para nós revolucionários proletários, nossa concepção de mundo materialista dialética nos afiança irrefutavelmente que os indivíduos seguem vivos no coletivo e na proporção direta do nível e significado daquele coletivo a que sua existência esteve atada, de uma ou outra forma. Muito e exatamente ao contrário dos burgueses e sua mórbida e desesperada concepção de mundo, sua falácia vulgar de inimigos do marxismo que o acusam debochada e grotescamente, como estúpidos que são, da pecha de grosseiro materialismo no sentido que despreza o espírito e só considera os bens materiais, pois são os burgueses mesmos e seu idealismo imperial já vencido pela história os que aviltam o espírito humano, adoradores e idólatras da mercadoria e do dinheiro que são, para quem, ao fim e ao cabo, a morte é o fim de tudo que veneraram em vida e a ilusão infantil de paraíso e inferno que difundem para atemorizar a humanidade e acorrentá-la a este sistema baseado na exploração do homem pelo homem.

A companheira Sandra está entre nós, sua presença já segue em nossas bandeiras, nas nossas consignas, nas nossas canções, em nossas palavras e nas lutas de nosso povo como inextinguível e luminosa estrela vermelha!”

Trecho do pronunciamento da Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo por ocasião da Celebração em homenagem à companheira Sandra Lima realizada em 2016 em Belo Horizonte.

Para todo o movimento revolucionário de nosso país e internacionalista ao qual a companheira serviu decididamente, a perda da companheira Sandra Lima pesa como uma montanha. O grande timoneiro Presidente Mao Tsetung afirmou que há mortes que pesam menos que uma pena, enquanto outras pesam mais que o Monte Tai (um grande monte localizado no nordeste da China). A morte dos reacionários, inimigos do povo, pesa menos que uma pena, enquanto a morte dos revolucionários pesa mais que uma montanha. Ao prestar homenagem a nossa grande, valorosa, querida e imortal companheira de longa marcha revolucionária queremos destacar que este acontecimento se reveste de significado especial, além de conhecer sua trajetória, compreender o significado da sua militância para difundir seu exemplo e generalizar sua experiência.

A querida companheira Sandra Lima faleceu no dia 27 de julho de 2016, aos 61 anos de idade. A companheira nasceu no dia 6 de março de 1955 em São Domingos do Prata, interior de Minas Gerais. Ficou órfã de mãe quando completaria 4 anos de idade, fato que determinaria sua “vida de cigana”, como costumava referir-se aos anos de sua infância e juventude. Quando sua mãe morreu deixou 5 filhos, o mais velho com 7 anos e o caçula com menos de 1 ano de idade. Sua avó materna Jupira se muda então para Barão de Cocais para assumir a criação dos netos, aos 54 anos, ela era viúva e havia criado seus 5 filhos sozinha.

Após a morte da mãe, a companheira Sandra passou mais 3 anos em Barão de Cocais; depois, fez os 3 primeiros anos de Grupo Escolar em Belo Horizonte; fez o 4º ano de grupo e a 1ª série do Ginásio em São Domingos do Prata; as 2ª e 3ª séries em Itabirito; e a 4ª série novamente em Belo Horizonte. Muito dedicada aos estudos, esteve entre os melhores alunos da turma.

Uma jovem contestadora e rebelde

Sua avó Jupira era uma mulher severa, dada a poucos afetos e que sempre chamava de “drama” os choros frequentes dos netos pequenos. Sandra e sua avó tinham em comum a inteligência, a franqueza e a combatividade. A avó estimulou, desde cedo, seu gosto pela literatura lendo juntas, em voz alta, inúmeras obras de escritores brasileiros, inclusive as de seu poeta preferido, Castro Alves. As contradições geradas pela criação severa da avó materna temperaram-lhe desde muito cedo o espírito rebelde. De uma criança assustada e obediente foi-se saindo uma adolescente independente e contestadora.

Em 1969 Sandra muda com a avó para Belo Horizonte. Dona Jupira monta uma pensão na avenida Paraná, onde abriga dois netos e amigos de Itabirito que tinham vindo estudar na capital. Em agosto de 1970, quando Sandra tinha 15 anos, sua avó abruptamente abandona a casa. A causa imediata da ruptura foi uma carta que Sandra havia escrito para uma colega da pensão onde criticava o modo autoritário da avó. Dona Jupira lê a carta e, quando no final da manhã Sandra chega do Colégio, a estavam esperando duas tias e um primo mais velho, o médico da família. Ao ver a carta nas mãos da avó ela já tinha certeza do que se trataria naquele encontro inesperado. Antes de receber a saraivada de críticas, limpou o terreno: recusou conversar ou que lhe dirigisse a palavra o primo mais velho; disse-lhe: “não tenho nenhuma satisfação a te dar”; para a avó, lhe cobrou por que tinha se dado ao direito de ler uma carta que não era para ela. Escutou sem chorar as duras cobranças das tias, que lhe chantageavam acusando-a de ingratidão pelos anos de dedicação da avó a ela e seus irmãos. Aguentou firme, até a saída dos três; em nenhum momento se desculpou e só depois se permitiu, trancada no quarto, chorar pela situação. No dia seguinte, quando chega da escola, a avó não estava mais. Um caminhão de mudanças havia levado praticamente todos os móveis da casa. Foi um baque, mas com o gosto de liberdade. Pouco mais de um ano depois Sandra e a avó se reconciliaram. Se restabeleceu e, com o tempo, se aprofundou uma admiração recíproca muito grande. Nunca conversaram sobre este episódio, não era necessário. Era o marco do surgimento de uma mulher. Dona Jupira, que também rompera muitos obstáculos e superara muitos desafios em sua vida, não escondia que admirava muito a coragem, a coerência e a firmeza da neta. 

No início dos anos 70 Sandra compartilha o sentimento de revolta e contestação ao regime militar

Os primeiros passos de sua atividade política se delinearam quando cursava o ensino médio no Colégio Estadual Central em Belo Horizonte. Em 1970 Sandra estava no 1º ano do 2º grau no Colégio, estudou lá até princípios de 1973, quando abandonou os estudos antes de concluir o 3º ano do 2º grau. Apesar de que as manifestações estudantis contra o regime militar fascista já haviam refluído do auge do ano de 1968, ela se rebelava frente às normas e os atos autoritários de controle e repressão da direção daquele estabelecimento, fato que era o padrão disciplinar nas escolas em todo o país. Era muito popular no Colégio. Na vida escolar passou da melhor aluna a mais rebelde e contestadora da escola.

No quadro de perseguição política imposto pelo regime militar, sem direção clara para a prática revolucionária, os jovens carentes da correta concepção de mundo baseada no marxismo, expressava sua desconformidade com os valores e modo de vida da sociedade brasileira semicolonial-semifeudal-burguesa, fundamentalmente do ponto de vista do comportamento, do ponto vista individual. Inquieta, Sandra queria sair de casa, procurava novos caminhos. Em 1973 interrompe os estudos. Quem não estuda, trabalha, esta era regra na casa. Começa, então, a trabalhar como datilógrafa na Fafi BH (Faculdade), onde fica até 1974 quando se muda para a cidade do Rio de Janeiro.

Desde o alvor de sua juventude contestou toda esta velha ordem do modo que lhe permitiu sua compreensão, ainda apenas sensível. Logo foi capaz de refletir por definir-se com base na razão sobre a vida humana, mais ainda, da vida das massas exploradas e oprimidas dentro do sistema então vigente, no qual imperava o regime militar fascista. 

A luta pela libertação dos presos políticos: a tomada de consciência

A tomada de consciência política virá fazendo parte da luta pela libertação de presos políticos do círculo de amigos. Quando muda-se para o Rio, Sandra vai morar com sua amiga Aline, uma talentosa cantora mineira, cujo marido, militante revolucionário se encontrava encarcerado. Aí acompanha o processo da sua prisão e participa solidária da luta pela libertação dos presos políticos. Com a prisão, a situação financeira da casa se agravara. Em decorrência disso, retorna para BH e leva consigo o filho pequeno da amiga, para ficar em casa de parentes. Indo e voltando com frequência entre BH e Rio, sempre levava comida da casa do pai para ajudar nas despesas. O que podia aportar de dinheiro era muito pouco, pois vivia da venda de artesanatos nas ruas e praias do Rio na época.

O início da militância revolucionária

Logo, em 1976, vai residir num bairro proletário na região industrial de Belo Horizonte, onde inicia intensa atividade de mobilização, politização e organização das massas nas lutas reivindicativas e de resistência e dá início aos seus primeiros estudos do marxismo-leninismo. Ingressa numa fábrica de componentes eletroeletrônicos, onde a imensa maioria dos funcionários da produção era mulheres, atividade que não pôde prosseguir devido ao agravamento da enfermidade de artrite que lhe agredia as mãos e a impossibilitava daquele trabalho de movimentos finos e repetitivos de manipulação. Seguiu então no intenso trabalho nos bairros proletários da zona industrial da região metropolitana de Belo Horizonte.

Casou-se na luta em 1977, teve 4 filhos e 4 netos

Sandra se casa em fevereiro de 1977 com seu companheiro de luta revolucionária, um amor proletário, baseado não somente na inclinação mútua entre um homem e uma mulher, mas no compromisso de ambos com a revolução. No início de março ela sofre um desmaio na fábrica; por apresentar eletroencefalograma alterado, passa a usar por um tempo um antiepilético. O trabalho manual e repetitivo agrava também seu problema de artrite. Se interna para tratamento. Depois necessita fazer constante aplicação de compressas quentes de panos com cera nas mãos, cotovelos e joelhos para aliviar as dores.

A casa do casal era desde sempre um centro de atividades políticas, tinha sempre alguém mais morando na casa. Mesmo após o nascimento dos filhos, hospedavam parentes e companheiros por longos períodos. Desde cedo os filhos sabiam que não tinham quarto, nem mesmo cama, fixos em casa; a acomodação seria distribuída de acordo com a necessidade em cada momento. Sandra sempre se orgulharia de ter oferecido essa educação aos filhos.

Por limitações de saúde não retorna ao trabalho de fábrica. Se concentra no trabalho de bairro. Acompanha o grupo de jovens, inicia turma de alfabetização de adultos com moradores do bairro Lindeia, onde marava. Participa da organização de manifestações na prefeitura contra a cobrança abusiva de impostos; por melhor transporte, asfaltamento e saneamento dos bairros da região. A luta pelo posto de saúde, que se inicia com a construção do prédio em mutirão, vai ganhar outra dinâmica quando estudantes de Medicina passam a oferecer atendimento médico voluntário e gratuito nos fins de semana. O trabalho de massas já passava a ter um objetivo político mais definido, ainda sem muita clareza sobre a linha, mas claramente superando os estreitos limites do trabalho economicista, baseado em mobilizar as massas para lutar por suas reivindicações imediatas e em defesa de seus direitos.

Os caminhos ziguezagueantes de uma prática classista

Era bastante assediada por diferentes organizações, mas decide junto a seu companheiro estruturar um grupo para tomar uma decisão coletiva sobre a que organização se vincular. Em setembro de 1978 o coletivo que organizara com outros companheiros decide ingressar no Movimento Revolucionário 8 de Outubro, organização que a esta altura propunha a reorganização do Partido Comunista do Brasil. Na nova organização se lançou com maior ardor e abnegação na militância política revolucionária, tomando parte destacada nas principais lutas operárias e populares da região metropolitana, bem como da luta pela liberdade dos presos políticos.

No início de 1979, após a posse do general Figueiredo, desencadeiam-se prisões contra o MR8. Uma companheira sua, estudante de ciências biológicas da UFMG, é presa. Sandra, já com sua primeira filha, participa ativamente da campanha de denúncia da sua prisão e dos atos pela sua libertação. A companheira é solta após 18 dias. Sandra se engaja de modo muito mais ativo no movimento pela liberdade imediata dos presos políticos, pelo fim às perseguições e por anistia (essa bandeira unificou a esquerda à época, como uma conquista democrática para a libertação imediata de todos os presos políticos e volta ao País dos exilados, entre os quais os banidos pelo regime militara fascista). Em 2011 e 2012, a companheira Sandra viria a dirigir uma campanha pela punição exemplar para os torturadores e assassinos, mandantes e executores, do regime militar fascista, contrapondo-se às linhas, tanto do oportunismo no gerenciamento do velho Estado, de “comissão da verdade”, quanto a do sistema de poder representada pelo milicos, de defesa da anistia ampla geral e irrestrita, realizada com acordo entre o regime em colapso e a oposição liberal, contando com vários setores da esquerda reformista.

O ano de 1979, com explosão das greves operárias, principalmente dos metalúrgicos nas regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro, e especialmente tormentoso na região de sua militância, a companheira atuou intensamente no apoio à greve na Fiat em Betim e à vitoriosa greve na Mannesmann. A greve da Mannesmann, comandada pelo companheiro Albenzio, o Boné, deslindou posições com outras de caráter meramente economicista, ao imprimir direção política revolucionária, politizando os operários ao levantar alto em suas manifestações as bandeiras políticas de derrubada revolucionária da “ditadura militar”. A companheira tomou parte dos comitês clandestinos que prepararam e deflagraram a greve na construção civil daquele mesmo ano, que sacudiu a reação com a ocupação do centro de Belo Horizonte. A “revolta dos pedreiros” como ficou conhecida sofreu duro golpe dos pelegos comandados por Luiz Inácio, que foi chamado às pressas a esta cidade para sabotar a direção da greve e pôr fim a ela.

A primeira prisão política da Sandra ocorre em 1979, na Cidade Industrial, quando fazia campanha de solidariedade aos metalúrgicos em greve em São Paulo. A companheira, como todas as vezes em que foi presa, manteve uma postura altiva e firme frente aos esbirros do velho Estado.

No final de 1979 seu companheiro assume a presidência do Sindicato dos Professores, fruto da participação nas greves no período. Sandra mantém-se no trabalho de bairro, agora não só no Lindeia, mas em toda a região metropolitana, impulsionado pelo auge no movimento de massas.

O jornal Hora do Povo é lançado em agosto de 1979. No ano seguinte organizam-se brigadas de venda do jornal. Excelente agitadora, Sandra vai se destacar nestas brigadas. Em uma delas realizada na Praça Sete ela é presa por policiais do DOPS. As manchetes contra o governo eram contundentes e correspondiam ao anseio por liberdades democráticas que as massas despertaram a partir da explosão dos movimentos grevistas. A avaliação política do MR8 era de que o regime militar fascista se achava profundamente dividido e entrara em colapso e a polícia não tinha condições mais de manter presos os brigadistas, muito menos matá-los ou desaparecê-los. A orientação para os militantes era ocupar as praças das cidades na denúncia do regime e por sua derrubada. Frente a repressão devia-se resistir a prisão, conclamando o povo para impedi-la, provocar o isolamento e desgaste da repressão policial, abrindo as praças à liberdade de expressão e manifestação. E isto de fato passou a ocorrer até a conquista na prática desses direitos democráticos. Forjou-se assim uma geração de agitadores, da qual Sandra se destacou como uma das mais combativas e eloquentes. Conquistar o direito de denunciar em praça pública o governo dos generais foi arrancado pelos brigadistas revolucionários. Em 1982, durante campanha de finanças para o fortalecimento do jornal Hora do Povo, Sandra e seu companheiro venderam sua casa do Lindeia para doar o dinheiro para a luta.

No trabalho de bairro Sandra passa a dedicar especial atenção à organização de grupos de mulheres. Em 1981, já com dois filhos, mobiliza e comanda pelas ruas da capital uma passeata pelo congelamento do preço do leite, desafiando a tropa de choque da PM. A proposta de uma organização específica de mulheres foi ganhando corpo.

Sandra participa ativamente da convocação do 1º Congresso da Mulher Mineira realizada em março de 1982 no Instituto Izabela Hendrix. No Congresso houve um duro embate entre as correntes de esquerda em torno da fundação da Federação Mineira de Mulheres. A ação divisionista dos grupos engajados no projeto eleitoral do PT, somada ao oportunismo do PCdoB, impediu a possibilidade da ação unitária das correntes de esquerda nesta frente de massas. As mais consequentes propunham uma ação unitária das forças democráticas e anti-imperialistas apontando à derrubada revolucionária do regime militar. Os militares manobravam para dividir o campo da oposição em geral e da esquerda em particular, e é nesse contexto que o projeto petista ganha impulso. Em 1984 a Federação Mineira de Mulheres é fundada e Sandra assume sua presidência.

Os problemas de saúde: a arma da ciência e ideologia do proletariado

Sandra sempre enfrentou graves problemas de saúde. Com 14 anos teve os primeiros sintomas de artrite reumatoide que tratou até 1977; a partir de 1989, a doença autoimune evolui para lúpus e o sintoma principal é a Síndrome de Raynaud, deficiência de circulação sanguínea nas extremidades dos dedos. As crises eram quase que anuais e exigiam altas doses de medicamentos para controlá-las. Teve uma convulsão em 1994 e fica à beira da morte, consequência de um ataque do lúpus ao cérebro. Recuperando-se retoma suas atividades políticas. Em 2002, tem nova convulsão e os exames detectam um tumor no cérebro e outro na meninge e um aneurisma também no cérebro. Em 2004 submete-se a cirurgia para a retirada do tumor no cérebro e em 2008, em nova cirurgia, retira o tumor na meninge. Nos exames de acompanhamento se descobre que o aneurisma, localizado em local de difícil acesso, havia trombosado e não significava mais uma ameaça iminente. Em 2016, descobre-se uma recidiva do primeiro tumor que comprimia seu cérebro e bloqueava parte do funcionamento cerebral, prejudicando algumas de suas funções, refletindo em certa incapacitação intelectual, o que exigia nova cirurgia para retirada do tumor. Dois dias após essa cirurgia, embora tenha ocorrido com êxito, a companheira recobrado a consciência e comunicado bem com familiares, ela teve uma forte convulsão e entrou em coma, do qual não mais saiu; no CTI contraiu uma forte infecção pulmonar que lhe levou a morte 8 dias após a cirurgia. A companheira Sandra faleceu em 27 de julho de 2016.

A companheira Sandra Lima era exemplo de firmeza e serenidade no enfrentamento de seus problemas de saúde. De fato, é de surpreender a quantidade de provas a que foi submetida, e admirável o espírito otimista e aguerrido com que sempre enfrentou estes desafios. Dizia: eu confio na ciência. Cercou-se de médicos dedicados e competentes, selecionados a dedo. E foi acreditando na ciência e tomando a lei da contradição como única lei fundamental que rege a matéria eterna, adotando a concepção de mundo do proletariado internacional, o materialismo dialético e manejando o marxismo-leninismo-maoismo, principalmente maoismo, aportes de validez universal do Presidente Gonzalo, que a companheira pôde enfrentar e vencer os inúmeros obstáculos que se colocaram para sua militância revolucionária. Sandra era uma intelectual proletária, estudiosa e sempre com uma postura investigativa e analítica, tinha o espírito sempre inquieto e estava sempre em busca do conhecimento e da verdade, com uma fé inabalável nas massas e no futuro luminoso do comunismo. Buscava conhecer e manejar as leis que regem o desenvolvimento da natureza, da sociedade e do pensamento. E foi com esse espírito e essa atitude que contaminava todos à sua volta, instigando a todos, principalmente os jovens e as mulheres, a se desafiarem dominar a teoria revolucionária para conhecer e transformar o mundo.

Tratava os conflitos e inquietações dos jovens com uma sensibilidade e disponibilidade marcantes. Não tinha nenhum assunto tabu ou tema que lhe embaraçasse. Conversava sobre relacionamento, sobre namoro e casamento; esclarecia sobre sexualidade, gravidez e criação de filhos, sobre aborto, virgindade; sobre comportamento, conduta, sobre o modo de vestir. Travava luta sobre educação de filhos, em particular das meninas. Em tudo colocava o ponto de vista de classe, uma visão revolucionária. Atacava as concepções burguesas e feudais, os preconceitos e o reacionarismo, assim como o individualismo pequeno-burguês expresso no pós-modernismo, de todas as índoles, em particular contra a mulher. Em sua fala não havia qualquer traço de arrogância. Falava de seus valores e de sua prática, mostrava sem reservas e com orgulho suas cicatrizes. Dava especial atenção à luta contra as drogas, todas, inclusive o álcool, denunciando como elas são usadas para a alienação da juventude.

Atuando principalmente na região industrial de Belo Horizonte, Contagem e Betim e na solidariedade ao movimento camponês, a companheira foi forjando sua condição de revolucionária proletária, de comunista e se consolidando no núcleo mais estável de militantes revolucionários, com os quais permaneceu até o fim de sua vida, transitando os mais diferentes e duros embates ideológico-políticos na luta de classes.

Com o fim do regime militar fascista, produto da luta popular revolucionária, porém devido ao caráter pequeno-burguês e não proletário que cada vez mais foi prevalecendo em sua orientação, cedendo hegemonia à oposição liberal na frente única, as classes dominantes puderam, através do acordo com os generais, impor o desenlace mais nefasto que resultou no simples retorno dos militares aos quartéis e sua mera passagem ao segundo plano do gerenciamento do velho Estado, de onde estes seguiram tutelando a vida política oficial.

A perda da perspectiva revolucionária e ilusão na velha democracia burguesa, o abandono da violência revolucionária como via revolucionária da conquista do Poder, a ausência da mínima expressão organizada da ideologia do proletariado foi o terreno onde o revisionismo e todo tipo de oportunismo tomou a direção do movimento operário-popular. O engano de que com o fim da “ditadura militar” se debilitara a ditadura da burguesia, transformou-se no afã da ilusão na velha democracia burguesa e o reformismo, mais uma vez vencia, ainda que temporariamente, na história da luta de classes no país.

A substituição do regime militar por gerenciamentos civis foi a base sobre a qual o revisionismo arvorou-se da mesma linha com que a esquerda renegada da luta armada, os grupelhos trotskistas, os sindicalistas treinados pelos institutos ianques, os partidários da teologia da libertação, a intelectualidade pequeno-burguesa e com o apoio do castrismo, criaram o “Partido dos Trabalhadores”, difundindo sua versão de “socialismo democrático”. Não tardou para que estas duas vertentes oportunistas eleitoreiras se fundissem em seu cretinismo parlamentar para gerenciar o velho Estado, servir ao imperialismo, à grande burguesia e latifundiários e presidir a repressão das massas.

E embora o MR8 combatesse o cretinismo parlamentar, apregoando participar das eleições utilizando-se das candidaturas como tribunas populares de denúncia política para revelar para as massas o caráter de classes da sociedade e do Estado, de revelar a dominação imperialista, principalmente norte-americana de nosso país, não podia deixar de enredar-se no processo eleitoral fortalecendo a direita em seu interior e direção. Foi abandonando passo a passo o mobilizar, politizar e organizar as massas populares para tomada do Poder. Com isto foi se afastando do que mais lhe tinha dado forças, o apoiar-se nas massas e sua mobilização, e cada vez mais passou à concepção fantasiosa de que a revolução democrática nacional viria pela “acumulação de forças” através das manifestações pacíficas de massas e a via eleitoreira na ocupação de “espaços democráticos” no velho Estado. Esta era a de centrar-se na construção de uma frente política tida como democrático-nacional por “romper com a dependência e libertar a nação”. Primeiro abandonou-se o campesinato, logo centrou-se no trabalho de articulação das cúpulas sindicais e cúpulas partidárias tidas por democráticas, arrastando todo seu trabalho de massas a dar sustentação a esta concepção.

Neste período a companheira Sandra e outros companheiros foram lançados pela organização a candidaturas legislativas centrando no propósito da agitação e denúncia políticas do sistema de exploração mantido pelo imperialismo, principalmente norte-americano, nunca sendo eleitos. Em meio destes desvios, a direita na organização foi se consolidando, logo vieram separações pelos mais apressados a passar de malas e bagagens para o reformismo completo. Com a consolidação direitista sob as teses de “Unir a Nação pra romper com a dependência” deixou campo aberto no movimento operário e popular para que a demagogia radicaloide do PT, com seu “classe trabalhadora contra a patronal” ganhasse cada vez mais influência e arrastasse toda a luta de classe para pântano do cretinismo parlamentar até alcançar seu triunfo eleitoral em 2002.

Sempre por uma firme posição de classe proletária

E foi em meio à confusão ideológica e desvios direitistas em que transitava o movimento revolucionário no país, que a companheira Sandra Lima esteve sempre entre os que travavam a luta interna contra tais desvios. No mesmo período estava à cabeça da luta por organizar as mulheres do povo, seguindo a linha de classe fundada nos ensinamentos dos grandes Marx, Engels, Lenin e Stalin. Nunca se cansara de repetir a importância e o grande significado do “Origem da família, da propriedade privada e do Estado”, tal como relembrava sempre citando aquele brilhante texto em que Clara Zetkin relatava suas conversações com o grande Lenin sobre o tema da opressão feminina, com que consolidou a concepção sobre a origem da opressão feminina e sua superação, respectivamente com o surgimento da propriedade privada e a revolução proletária, destacando para isto a necessidade de um trabalho político especial com as mulheres, impulsionando uma organização de trabalhadoras. Nesta luta encabeçou uma organização de massas de grande penetração e força no seio das mulheres de nosso povo. Logo no interior dessa frente também abriram-se contradições com os desvios que propunha engatar a organização de mulheres com o reformismo eleitoreiro e as teses de “União Nacional”.

Mas foi por estes complicados caminhos que a companheira Sandra havia apreendido corretos balanços da história da revolução e agarrou com firmeza inabalável a defesa da URSS de Lenin e Stalin, o rechaço à traição do XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética – PCUS e do kruschovismo e a defesa inflexível da direção proletária do camarada Stalin formando uma sólida base teórica marxista. Quando o liquidacionismo tomou conta da direção do MR8 e a luta interna agudizou foi uma das primeiras a tomar posição pela linha da cisão liderada pelo companheiro Albenzio, o Boné.

No dia 6 de março de 1995, completando 40 anos, a companheira Sandra toma parte da histórica cisão com o nacional-reformismo

No dia 06 de março de 1995, junto a centenas de militantes, liderados pelo companheiro Boné, Sandra é parte ativa da cisão antirrevisionista com o nacional-reformismo do MR8, acontecimento com que se abriu uma nova etapa do movimento popular e revolucionário em nosso País. Como consequência desta decisão, novas organizações de massas vão sendo construídas, assentadas no classismo, na independência e na combatividade; proclamando-se o varrimento do eleitoralismo e de todas manifestações de oportunismo.

A companheira Sandra Lima esteve sempre pela linha de classe proletária. Sua geração debateu-se desesperadamente, soterrada que se encontrava pelo reformismo. Para romper esta crosta reformista a companheira se lançou ombro a ombro com seus companheiros nas primeiras linhas de combate, donde brigou ferozmente para atingir a alta compreensão da ciência e ideologia do proletariado de nossa época, o maoismo como terceira, nova e superior etapa de desenvolvimento do marxismo, lançado pelas labaredas da Guerra Popular do Peru e o Pensamento Gonzalo que a dirige. Laborou sem choramingas, confrontando com todo revisionismo e oportunismo, na defesa do caminho da revolução brasileira, revolução democrática, agrária e anti-imperialista, ininterrupta ao socialismo, a serviço da revolução mundial e no rumo do luminoso comunismo. Sustentou a defesa de sua realização por meio da luta prolongada e da violência revolucionária como parteira da história.

Um dos primeiros atos da histórica cisão de 6 de março de 1995 foi exatamente a combativa celebração do Dia Internacional da Mulher Proletária daquele ano, com a realização do encontro de mulheres do povo, onde com a linha proletária revolucionária, revigorada com o estudo e assimilação, defesa e aplicação do maoismo, se deslindou mais profundamente com todo o feminismo burguês e pequeno-burguês de então. Um movimento revolucionário de mulheres encabeçado pela companheira Sandra tem sido desde então, e nos últimos 27 anos, um dos pilares da reorganização do movimento revolucionário no País.

A luta pela mobilização, politização e organização das mulheres do povo

No 8 de março de 2000 foi realizado em Belo Horizonte, na sede do Sindicato dos Trabalhadores no Transporte Rodoviário, o encontro de fundação do Movimento Feminino Popular – MFP, encontro que consolidou a concepção, ideologia, linha geral e programa para o novo Movimento Revolucionário de Mulheres com a criação de uma organização especial para o mesmo.

Sandra era linha de frente na luta pela politização, promoção e elevação da prática politica das mulheres do povo, de rechaço ao infantilismo do feminismo pós-moderno pequeno-burguês e idealismo burguês. Sempre pela linha de classe, sustentou a concepção científica sobre a opressão feminina, a qual tem suas raízes no surgimento da propriedade privada, da família monogâmica patriarcal, e na divisão da sociedade em classes antagônicas e de que a emancipação da mulher é obra da revolução proletária. A companheira Sandra era o principal quadro teórico e prático e principal fundadora do Movimento Feminino Popular.

Segue trecho de uma carta de Sandra dirigida a uma companheira próxima onde fala sobre o sentido da liberdade e a incita a assumir com consciência mais elevada sua condição de mulher revolucionária:

A luta pela liberdade, ou seja, pela consciência que nos permite ser materialmente livres antes das conclusões materiais, é muito grande. Porém, quando a gente descobre leis, as desvenda pouco a pouco encontrando o fio da meada, que sensação boa! Portanto, a grande conclusão a que tenho chegado com essa análise dialética é sobre a independência. Isto é, o polo oposto da dependência é a independência, econômica, política e ideológica. Nós duas não temos dependência na prática, mas não poderíamos ficar imunes à dependência política e principalmente ideológica, isso não seria materialista. Por isso, que nossa luta tem de ser pela independência = liberdade, desde já, anterior ao triunfo completo, que pode e é conquistável através do desenvolvimento ideológico, da compreensão do materialismo histórico dialético. Como afirma Marx: “A necessidade só é cega enquanto não é compreendida. A liberdade consiste em conhecer a necessidade”. É compreendendo essas teses que podemos afirmar que as mulheres e homens com um nível elevado de consciência, com a consciência da última classe da história, são desde já livres e é por isso que são a vanguarda da luta pela liberdade das amplas massas. Por isso é que eu afirmo para todas as companheiras: não podemos dizer que somos oprimidas, é um erro teórico e prático. Temos consciência da opressão da quarta montanha e essa consciência nos é dada pelo poder adquirido em empunhar a ferramenta que o destruirá. Não podemos, portanto, admitir que ainda seremos oprimidas, que ainda possamos estabelecer relações atrasadas. Temos obrigação como vanguarda de não permitir isso e se vemos alguma companheira correndo este risco, devemos alertá-la e chamá-la à realidade.

A companheira Sandra sempre defendeu, firmemente, a necessidade de uma Grande Revolução em nosso país

A companheira é uma das principais dirigentes mulheres e fundadora também da Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo. A companheira tomou parte ativa da luta pela tomada de terra urbana na Vila Corumbiara (Belo Horizonte, 1996) e Vila Bandeira Vermelha (Betim, 1999) e da construção do movimento Luta Popular pela Moradia. Atuou na construção da Liga Operária. A companheira Sandra foi responsável, ao longo das últimas décadas, pela formação ideológica, política e teórica de sucessivas gerações de jovens revolucionários. Contribuiu com a formação de quadros para a criação de um novo movimento estudantil popular e revolucionário.

Apoio à revolução agrária e formação de núcleos do MFP no campo

A companheira Sandra foi apoiadora e grande propagandista e impulsionadora da Revolução Agrária em nosso país, como parte da revolução de Nova Democracia ininterrupta ao socialismo. Formou gerações de jovens que se tornaram professores de Escolas Populares nas áreas revolucionárias da Liga de Camponeses Pobres em diversas regiões do país. Impulsionou a formação de dezenas de núcleos do MFP nas áreas da LCP, impulsionando a organização revolucionária das mulheres camponesas, elevando a militância de centenas de ativistas na luta por terra para quem nela vive e trabalha e pela destruição do latifúndio, como parte da Revolução de Nova Democracia. Participou ativamente da luta pela construção do Socorro Popular, organização de apoio a ativistas, militantes e familiares, particularmente do movimento camponês, na área de saúde. Realizou dezenas de palestras para mulheres camponesas em todas as regiões do país, expondo sobre a linha política do MFP e instigando as companheiras a se lançarem na luta. Expunha e explicava com particular objetividade, simplicidade e cientificidade sobre a linha do movimento, ganhando as mentes e corações das massas camponesas de nosso país, que têm na companheira sua referência de mulher e dirigente revolucionária.

A Campanha pela punição dos criminosos do regime militar fascista

Em 2011, quando o gerenciamento petista criou a comissão da “verdade”, a companheira Sandra liderou uma campanha nacional feita pelo Movimento Feminino Popular com o lema: Nem perdão, nem esquecimento, nem reconciliação! Punição já, para os mandantes e executores, civis e militares, das torturas e assassinatos do regime militar fascista. Essa campanha, que desestabilizou ainda mais o gerenciamento do oportunismo e agudizou as contradições entre os militares e o gerenciamento do oportunismo, foi parte da tática revolucionária para a derrota da ofensiva do oportunismo, sacudindo-o seu gerenciamento do velho Estado, e logo em colapso com as grandes jornadas das revoltas populares da juventude de junho de 2013/14. Essa campanha, ademais das intervenções combativas e eloquentes nas audiências das comissões da verdade, de banimento dos nomes de carrascos do regime militar de logradouros públicos que os homenageavam, substituindo-os pelos nomes dos heróis e heroínas de nosso povo, de pichações por todo o país, de atos de escracho dos torturadores na frente de seus clubes militares e organizações recreativas, teve seu auge numa passeata de centenas de mulheres camponesas, operárias e estudantes, um verdadeiro mar de bandeiras vermelhas do MFP, no centro do Rio de Janeiro e que culminou com grande manifestação em frente ao Clube Militar, com que se denunciou os crimes do regime militar e clamou por punição exemplar, lançando tinta vermelha na porta da famigerada associação.

Mais de 40 anos de militância revolucionária

Sua militância de mais de 40 anos foi feita de firmeza temperada do caráter reto, da honestidade intelectual, da solidariedade de classe sem fronteiras, da posição clara frente às massas, de abnegada entrega à causa, de implacável e inconciliável combate aos inimigos do povo e do persistir sempre. Sua militância nunca foi algo episódico ou que claudicasse por causa de qualquer um dos inúmeros obstáculos que se interpõe à prática e à vida dos revolucionários, forjada também nas contradições dos debates intensos e nas tempestades das ferrenhas lutas ideológico-políticas e da crítica e autocrítica.

Propagandista da causa e agitadora da Revolução

Excepcional quadro ideológico-político de muitas habilidades lapidadas no calor da luta de classes como propagandista da causa e agitadora da revolução. A companheira desenvolveu, discípula que era do Presidente Mao Tsetung, grande capacidade de expor de maneira simples, objetiva e científica sobre a linha política geral do movimento, sempre relacionando com fatos que permitissem maior compreensão sobre o que estava dizendo, ligando sempre o geral ao particular e a direção às massas. Sensível e sempre preocupada com os problemas e a vida das massas, conhecia profundamente sua realidade, particularmente a das mulheres do povo, sendo grande agitadora sobre as aflições que atingem as massas e a necessidade da sua mobilização, organização e politização, a necessidade da revolução de nova democracia ininterrupta ao socialismo, em nosso País e a serviço da revolução mundial, crendo firmemente que juntos os povos do mundo realizando sucessivas revoluções culturais proletárias, a Humanidade se emancipará entrando todo o mundo ao luminoso comunismo.

À sua memória gloriosa oferecemos esse lindo poema elaborado em sua homenagem por um dos companheiros fundadores da Frente Revolucionária de Defesa dos Direitos do Povo:

A tua presença

Teu corpo frágil elude apenas o vulcão que nele habita à espreita de desatar,

A luz de teus olhos atentos de mirar o povo a alentar seu olhar,

Tua tão simples beleza, despida de arranjos, singela de quase austera e espartana,

Tua razão serena de verdades fez-se têmpera da perturbadora paixão de lutar,

Tua teimosia revolucionária foi a recusa pétrea a se render,

Tua voz tão grave feita de causar distúrbios é a voz da turba que já vem lá,

Voz de semear ventos, fazer motins à velha ordem, tecer sedição

e dar guerra sem quartel a odiosa e milenar opressão da mulher,

Teu punho levantado uma vez para não arriar jamais,

Teu voo interrompido é águia que se eleva em nossa voz,

Tua presença entranhável tão luminosa em nós para sempre.

Mas teu corpo quietou-se no tormentoso tempo que anunciaste,

A luz de teus olhos extinguiu-se para ser o clarão da nova aurora que virá,

Tua simplicidade deixou-se para ser exemplo a todos,

Tua razão quedou-se na causa condenada a triunfar,

Tua teimosia cessou-se para fazer irrenunciável o persistir,

Tua voz calou-se no canto da esperança e da certeza,

Teu punho em riste descansou-se na fúria das massas,

Teu voo posou para desafiar os cumes,

Tua presença fez-se ausência para ganhar batalhas além da morte,

O que nos reclama? Ordene!

Que foices e martelos se esgrimem,

Que arvore ao cume mais alto o vermelho estandarte,

Que soem trombetas,

Que ruflem tambores,

Que empunhem fuzis,

A ti, de pé respondemos, presente companheira!

Companheira Sandra Lima: Presente na luta!

Honra e glória eternas aos heróis e heroínas de nosso povo!

Despertar a fúria revolucionária da mulher!

LEAVE A RESPONSE

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *